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quela não era uma sensação comum. Sentir o vento morno roçando sua pele como
um afago, a ponto de quase poder pegá-lo com as mãos, parecia algo diferente de
tudo que ela já havia sentido antes. Entretanto, naquele local havia algo de
muito familiar que não era possível precisar. Não podia ser a paisagem, pois ela
estava deslumbrada com a visão inédita.
Parada em pé sobre uma
pedra, em um dos pontos mais altos do lugar, a jovem loura e esguia tinha seus
longos cabelos encaracolados esvoaçando e as roupas tremulando. Também as
árvores e o capim dançavam, acompanhando a movimentação do ar, de um lado a
outro. Mais abaixo avistava o vale, coberto por uma relva verde-clara repleta
de pequeninas flores coloridas. No entorno, uma coleção de montanhas de
altitudes variadas com uma mata densa e árvores enormes destacando-se entre as
outras de menor porte.
Enquanto reparava na
diversidade da coloração e do formato das folhas, pensava se seria possível que
ela já estivesse estado ali em algum momento, mas não estava certa disto. Talvez
fosse a sensação indescritível de aspirar aquele ar puro e tão diferente, quase
tangível, que a fazia sentir-se assim. Podia senti-lo percorrendo todo o seu trajeto
desde as narinas até os pulmões e o caminho oposto na expiração. Não havia como
não se deliciar com aquilo.
Estava envolvida nestes pensamentos,
quando a movimentação de dois pontos escuros ao longe, no vale, chamou sua
atenção. Pareciam as figuras longínquas de dois animais correndo e saltando entre
a vegetação como se viessem em sua direção.
De repente uma forte fisgada
em seu ombro direito fez com que ela se voltasse para olhar para trás, porém só
o que viu foi uma luz vermelha de um brilho tão intenso que quase a cegou. Ela
fechou os olhos por um instante, completamente ofuscada. Quando os abriu
novamente estava cercada por criaturas encapuzadas que avançavam ameaçadoramente
sobre ela, sem que ela pudesse identificar seus rostos. Seu primeiro impulso
foi saltar. Caiu no patamar logo abaixo, onde o mato alto amorteceu sua queda.
Saiu correndo trôpega, em direção à mata, onde poderia se esconder.
Correu o máximo que pôde.
Tentava desviar-se entre as árvores, mas todo o tempo via e sentia os vultos
logo atrás de si. Correu tanto que sua respiração começou a falhar. Suas pernas
ficaram pesadas e não obedeciam mais ao seu comando. Foi se agarrando aos
troncos, tentando escapar, enquanto sentia que a qualquer momento poderiam
alcançá-la. Os passos se aproximavam, seu coração doía dentro do peito. Quando
olhou para trás, tropeçou em uma árvore caída
e seu corpo tombou em meio às folhas secas. Tudo ficou escuro de repente e ela
não conseguiu mais se mover.
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