domingo, 20 de janeiro de 2013

Prólogo de A Marca Escarlate



A
quela não era uma sensação comum. Sentir o vento morno roçando sua pele como um afago, a ponto de quase poder pegá-lo com as mãos, parecia algo diferente de tudo que ela já havia sentido antes. Entretanto, naquele local havia algo de muito familiar que não era possível precisar. Não podia ser a paisagem, pois ela estava deslumbrada com a visão inédita.
            Parada em pé sobre uma pedra, em um dos pontos mais altos do lugar, a jovem loura e esguia tinha seus longos cabelos encaracolados esvoaçando e as roupas tremulando. Também as árvores e o capim dançavam, acompanhando a movimentação do ar, de um lado a outro. Mais abaixo avistava o vale, coberto por uma relva verde-clara repleta de pequeninas flores coloridas. No entorno, uma coleção de montanhas de altitudes variadas com uma mata densa e árvores enormes destacando-se entre as outras de menor porte.
            Enquanto reparava na diversidade da coloração e do formato das folhas, pensava se seria possível que ela já estivesse estado ali em algum momento, mas não estava certa disto. Talvez fosse a sensação indescritível de aspirar aquele ar puro e tão diferente, quase tangível, que a fazia sentir-se assim. Podia senti-lo percorrendo todo o seu trajeto desde as narinas até os pulmões e o caminho oposto na expiração. Não havia como não se deliciar com aquilo.
            Estava envolvida nestes pensamentos, quando a movimentação de dois pontos escuros ao longe, no vale, chamou sua atenção. Pareciam as figuras longínquas de dois animais correndo e saltando entre a vegetação como se viessem em sua direção.
            De repente uma forte fisgada em seu ombro direito fez com que ela se voltasse para olhar para trás, porém só o que viu foi uma luz vermelha de um brilho tão intenso que quase a cegou. Ela fechou os olhos por um instante, completamente ofuscada. Quando os abriu novamente estava cercada por criaturas encapuzadas que avançavam ameaçadoramente sobre ela, sem que ela pudesse identificar seus rostos. Seu primeiro impulso foi saltar. Caiu no patamar logo abaixo, onde o mato alto amorteceu sua queda. Saiu correndo trôpega, em direção à mata, onde poderia se esconder.
            Correu o máximo que pôde. Tentava desviar-se entre as árvores, mas todo o tempo via e sentia os vultos logo atrás de si. Correu tanto que sua respiração começou a falhar. Suas pernas ficaram pesadas e não obedeciam mais ao seu comando. Foi se agarrando aos troncos, tentando escapar, enquanto sentia que a qualquer momento poderiam alcançá-la. Os passos se aproximavam, seu coração doía dentro do peito. Quando olhou para trás, tropeçou em uma árvore caída    e seu corpo tombou em meio às folhas secas. Tudo ficou escuro de repente e ela não conseguiu mais se mover.

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