- Anáira, você será apresentada a todas as Doze Tribos, agora com todos em
sua forma real, que lhe trarão suas futuras armas, as quais deverão ser as
únicas que você poderá usar, além da magia. – Voltando-se aos presentes, Maíra ordenou:
– Que se apresentem os representantes de cada tribo...
Agora, em sua nova forma,
Anáira procurava pelos casais de anciãos e pôde perceber que eles também estavam
transformados, pois nem todos tinham uma aparência humana, e suas roupas também
diferiam daquelas utilizadas na celebração da noite passada.
Logo a seguir, um a um,
os casais aproximaram-se da Mesa levando os presentes relativos às suas Tribos
e se apresentando individualmente.
Os primeiros a se
apresentar eram criaturas muito menores que os demais, mas não propriamente
anões. Ambos usavam chapéus muito parecidos, com três pontas voltadas para
frente, porém o dela tinha enfeites de tiras coloridas e pequenas estrelas. Possuíam
a pele muito enrugada e de um tom cinza-esverdeado, narizes achatados, orelhas
baixas e alongadas e olhos tristes, devido às pálpebras caídas nos cantos
laterais. Apesar do aspecto estranho, tinham expressões incrivelmente bondosas,
criando simpatia instantânea. Com uma voz grossa e metálica, a criatura
masculina apresentou-se:
- Somos Ariel e Andrasta,
da Tribo dos Cétridos, que simboliza a Força Física, nós lhe trazemos A Espada Rúbea.
Não se deixe impressionar por nossa pequena estatura. Amanhã, em nosso
treinamento, você verá que as aparências enganam muito...
Foram seguidos por um
casal de aspecto bem humano, porém enormes. Tanto, que tiveram que manter-se
curvados durante todo o tempo. Ali, perto dos cétridos, a diferença de tamanho
tornava-se espantosa. Anna teve que olhar para o alto quando eles se
aproximaram:
- Oclasto e Ariadne, da Tribo
dos Gigantes, trazendo-lhe a Coragem, na forma do Escudo de Mãos Livres. Seja
bem-vinda!
Logo atrás, um casal de
idosos de pele ligeiramente azulada e formas longilíneas, vestes brancas e
cabelos longos branco-prateados, disseram, com uma voz muito suave,
pausadamente:
- Tertúlio.
- Hilda. Representamos a Tribo
dos Etrúrios.
Ele prosseguiu:
- Ensinaremos a Confiança,
e lhe ofertamos uma Trombeta. Você, em pouco tempo, saberá quando usá-la...
Anáira sentiu então uma
brisa perfumada, como se recebesse flores, mas não havia nada nem ninguém a sua
frente. Apertou os olhos e viu duas formas diáfanas, como se estivesse vendo
águas-vivas em um aquário. Aos poucos, estas tomaram formas alongadas, do
tamanho de pessoas, e materializaram-se um arco e um conjunto de flechas bem à
sua frente, quando pôde ouvir sons, como silvos, que diziam:
- Somos Amon e Hasta, da
Tribo do Ar. Representamos a Transcendência, e lhe ensinaremos o uso do Arco e Flecha.
Vieram a seguir um homem
e uma mulher belíssimos, de tez muito clara, quase luminosa, ambos louros e de
cabelos muito longos, com olhos azuis claríssimos penetrantes e orelhas
afiladas. Trajavam longas capas e quase não se podia distinguir qual o masculino
e qual o feminino. Um deles apresentou-se, com voz melodiosa:
- Asgard e Zorr, Tribo
dos Elfos. Representamos o Amor por todas as criaturas e lhe trazemos a Capa
Indelével.
O próximo casal parecia
de indígenas, em vestes de guerra, muito morenos e com corpos fortes e pintados.
O homem apresentou-se com uma voz gravíssima:
-
Haoni e Mani, da Tribo da Terra. A Disciplina é a virtude no uso do Machado. E
fizeram uma saudação - “Hai!”
A Grande Guerreira
repetiu a saudação – “Hai!”
Repentinamente uma enorme
figura alongada de chamas vibrantes veio serpenteando em sua direção e, ao se
aproximar de Anáira, tomou a forma de uma face em cada extremidade e uma voz
calorosa vibrou no ar:
- Salma e Andro, somos
dois em um, simbolizando a Tribo do Fogo, cuja Virtude é a Fidelidade. Guarde
sempre esta Chama que Nunca se Apaga consigo – e lhe deu uma pequena chama que
se desfez nas mãos da presenteada, sem, entretanto, queimá-la.
Anáira não entendeu o
significado daquele presente. Então a serpente de fogo fez vibrar o ar
novamente, ao dizer:
- Muito em breve você
aprenderá sua utilidade!
A seguir, o casal que ela
já conhecia, Nágila e Hermes, da Tribo Universal, lhe trouxe um raio de luz azul,
o Raio Cerúleo. Eles iriam lhe ensinar a Paciência.
Vieram ainda Atheléa e Vetusto,
da Tribo Atlante, o povo da Sabedoria, caracterizados por seus crânios
alongados para trás, para acomodar seus cérebros avantajados. Trouxeram a
Anáira um grande e pesado livro – o Código Atlante.
Estes deram lugar a
saltitantes criaturas que se assemelhavam às crianças humanas, com grandes
olhos e largos sorrisos, trajes coloridos e bufantes, pêlos curtos sobre todo o
corpo e rodeados por pequenos pássaros, borboletas e animaizinhos que corriam
em seu entorno. Eram Beladucadro e Brosingamene, da Tribo da Alegria, os Híbridos.
Seu presente foi um Espelho.
Um homem e uma mulher de
meia-idade, trajados sobriamente, se apresentaram a seguir:
- Somos André e Elza, da
Tribo dos Homens Virtuosos. Vamos ensinar-lhe e Perseverança e lhe oferecemos esta
Ampulheta.
Anáira ainda guardava o
objeto atrás de si quando uma onda gigante invadiu o corredor central e ela
instintivamente abaixou-se e respirou fundo, segurando o ar. Mas a água
estancou-se diante dela e dividiu-se em duas figuras paralelas. De uma delas,
partiu uma extensão, como uma mão, que lhe deu uma garrafa de vidro com uma
estrutura metálica trançada em volta e repleta por um líquido transparente. Uma
voz gutural saiu da outra das figuras líquidas:
- A Tribo das Águas lhe
oferece o bem mais sagrado que existe, a Água Pura. Somos as Ondinas e a
Cautela será nossa lição.
Anáira já não via outro
casal. À sua frente aproximou-se Maíra. Antes mesmo que houvesse tempo para
perguntas, ao lado dela materializou-se um idoso senhor, de cabelos e barbas
brancos e longos, com o corpo tatuado como o da velha senhora, e com muitas
marcas do tempo no rosto e em toda a pele. Ambos se postaram defronte àquela há
muito esperada e a saudaram com uma grande reverência. O homem apresentou-se:
- Querida Irmã, sou
Verastro, companheiro de Maíra. Já não pertenço mais a esta dimensão, mas
estarei aqui sempre que necessário. Como você já deve ter percebido, somos da
Tribo Escarlate. Conosco você terá lições de Magia. Guarde consigo esta Cuba de
Pedra. Será seu bem mais precioso.
Ambos lhe pegaram as mãos
e, apertando-as com vigor, imaginaram palavras que Anáira estranhamente pôde
ouvir e entender. “Sim, Irmã, você pode ouvir o que pensamos e nem precisa de
treinamento para isso. Que você cumpra bem sua Missão, estaremos todos com você.”